Semanas atrás escrevemos sobre o movimento red pill, a relação com o filme Matrix, porque ele não traz nada de novo – é a velha masculinidade tóxica – e também como combatê-lo.
Agora, com o massacre em Blumenau e as postagens do assassino apoiando o bolsonarismo e a polícia falando que foi um caso isolado, voltamos ao assunto.
Importante lembrar, como trouxeram as Catarinas através de pesquisas, dos 23 ataques nos últimos 21 anos, 12 ocorreram entre 2022 e 2023 (mais da metade ocorreu nos últimos 15 meses). Responsabilidade do incentivo maior (com autorização no discurso inclusive do ex-presidente e sua rede de ódio) e radicalização através das plataformas digitais.
O perfil? Homens brancos, machistas e misóginos, gosto por violência e histórico psiquiátrico. Meninos que são ensinados desde cedo que o mundo inteiro é deles, que eles podem se apossar de tudo e todes. Quando chegam no mundo real e veem q não é assim, lidam com isso com frustração e violência.
Alguns afirmam levianamente que o bullying é a causa, mas quantas meninas você vê cometendo massacres, ou então, você já viu alguma pessoa LGBTQIA+, público que constantemente sofre bullying, sair matando todos ao redor? Não…
Em específico o caso de Blumenau, nota-se que a cidade teve mais de 80% de votos pró-bolsonaro. Passar pelo bolsonarismo teve só uma coisa boa: mostrou pra gente, de maneira cristalina, as fraquezas deles, onde é que dói e o que os fortalece.
A partir do que eles encamparam, como:
- Violência urbana e milícia (com direito a total envolvimento com o assassinato de Marielle e Anderson)
- “Cura gay”, “kit gay”, lgbtfobia (e perseguição a liderança LGBTQIA+ Jean Wyllys)
- Diversos casos de misoginia e machismo
- Constantes mentiras e produção de fake news
- Ameaças de morte e afrouxamento de legislação das armas
- “Escola sem partido”, Ministério da “Mulher, da Família e dos Direitos Humanos” (ou seja, enfraquecendo os Direitos Humanos e das políticas para as Mulheres)
- Interrupção do Ministério da Cultura
- etc
Podemos ter clareza do funcionamento de medidas como:
- Combate ao racismo, misoginia, desigualdade social e de gênero
- Políticas LGBTQIA+, feministas, de direitos humanos e distribuição de renda
- Recuperação da Cultura
- Regulação mídias e plataformas digitais
- etc
Mas você percebeu uma conexão entre os temas bolsonaristas? A manutenção e expansão da masculinidade hegemônica.
É claro que precisamos de técnicas de segurança nas escolas, programas de prevenção/combate bullying, mais segurança emocional de alunes, detecção de sinais de violência, conscientização sobre violência e armas (e leis de controle de armas), parcerias com comunidades locais etc. Mas precisamos também, principalmente e com urgência, ter estudos de gênero nas escolas!
Só assim vamos ter:
- Compreensão dos efeitos da socialização de gênero, identificando como pode afetar o comportamento e o desenvolvimento dos alunos, permitindo que educadores e profissionais de saúde mental criem abordagens mais eficazes para apoiar os alunos em suas necessidades únicas.
- Promoção da igualdade de gênero, com mais compreensão das normas de gênero e como elas são ensinadas, ajudando a promover a igualdade em escolas e comunidades, criando um ambiente de inclusão e apoio para todes os alunes.
- Redução da violência escolar, já que os estudos de gênero podem ajudar a identificar fatores subjacentes à essa violência, como a construção da masculinidade tóxica e sua relação com armas de fogo, permitindo que os educadores criem estratégias eficazes de prevenção para promover um ambiente de aprendizagem seguro.
- Melhoria da saúde mental dos alunos com a compreensão dos papéis de gênero, isso pode ajudar a identificar as causas de problemas de saúde mental em alunos, permitindo que os educadores e profissionais de saúde mental criem abordagens de prevenção e tratamento mais eficazes.
- Diminuição do estigma na busca de ajuda em saúde mental, especialmente para jovens homens que podem sentir pressão para não buscar ajuda ou apoio emocional
- Aumento da empatia e compreensão: os estudos de gênero podem ajudar os alunos a desenvolver uma compreensão mais ampla dos papéis de gênero e como eles podem afetar as pessoas, permitindo que desenvolvam empatia e compreensão em relação aos outros, o que pode levar a relações mais positivas e colaborativas em sala de aula e na vida.
- E melhoria do desempenho acadêmico, afinal a promoção da igualdade de gênero em sala de aula pode ajudar a aumentar a participação e o envolvimento dos alunos, melhorando assim seu desempenho acadêmico e satisfação geral com a escola.
Precisamos também falar da regulação da mídia e plataformas digitais, além de como tornar a educação mais atrativa e divertida para alunes, principalmente usando novas tecnologias e recursos da cultura vigente, mas isso deixaremos para um próximo post.
Veronyka Gimenes
Navega entre programação, gestão, design e ativismo. Especializada em Desenvolvimento de Software, Globalização e Cultura, e Diversidade. Com mais de 15 anos de experiência nessas áreas, já trabalhou com IBM, Prefeitura de São Paulo, Banco Mundial (para Governo do Ceará e Rio Grande do Sul), Bloomberg Philanthropies, Ministério da Cultura do Brasil, Campanha Presidencial Lula 2022 e Haddad 2018 e 2022, Partido Rede, OAB SP entre outros. Atuou em projetos no setor Legislativo, Executivo e Judiciário e já coordenou campanhas políticas. Já palestrou no TEDxUFRJ, Democracy Lab (MediaLab-Prado, Madrid), MIS – Museu da Imagem e do Som, Red Bull Station, Prefeitura de São Paulo, IAB-SP e InovaDay/iGovSP.